SNS - Correia de Campos também quer a mudança
Não, não. Eu estou a coligir as informações veiculadas na imprensa. Há margem para, no máximo, umas duas ou três centenas de milhões de euros. Não há mais margem que isso. Agora é possível fazer coisas que trazem contenção de despesa. Por exemplo, a impossibilidade de acumular funções no sector público e privado, essencial para pôr os hospitais a funcionar integralmente da parte da tarde.
Como é que isso pode ser feito?
Não é preciso fazer nada drasticamente, mas por etapas. Outro exemplo: os lugares de directores de serviço no público têm de ser preenchidos por pessoas em dedicação exclusiva. Segunda regra: todo o treino dos médicos é realizado em dedicação exclusiva.
Isso não criaria uma rebelião do sector?
Se fosse há dez anos teria criado. Hoje não. Uma das vantagens da situação que temos é ter oportunidades para fazer reformas. Eu não me atreveria a dizer isso há dez anos.
Porque não se atreveria a dizer isto há dez anos?
Porque isto é um problema altamente político e os organismos de representação profissional dos médicos valorizam muito, mitificam até, a prática privada. Acham que devem ter pulso livre, mas acham também que têm direito a um ordenado gordo no sector público.
Qual a solução, nesse caso?
A administração do hospital não comanda a despesa. Quem o faz são os directores de serviço e paradoxalmente não decidem nada dos recursos. Têm de aceitar os médicos que lhes colocam no serviço. Nem sequer mandam nos enfermeiros. Ao fim e ao cabo não são senhores do destino dos seus serviços e têm de ser. É necessário mudar a gestão intermédia dos hospitais, olhando para o exemplo bem sucedido das unidades de saúde familiares.
Tem quase um programa alinhado. Hoje era mais fácil ser ministro da Saúde do que quando esteve na pasta?
Penso que foi muito difícil o actual ministro começar a ser ministro da Saúde num tempo em que essa era tida como uma área com dinheiro muito mal gasto. Foi certamente muito difícil ao ministro Macedo arrancar, mas ele tem um registo de cuidado e precaução e defesa de interesses do cidadão. A partir de agora, para ele, paradoxalmente, vai ser mais fácil que para os outros ministros, que não fizeram as reformas. O Ministério da Saúde vai resistir melhor ao agravamento da crise, na história do corte dos 4 mil milhões, que outros ministérios.