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Marine Le Pen é de extrema esquerda

Marine Le Pen é de extrema-esquerda

Como? Pois é. Longe vão os tempos em que o pai de Marine Le Pen, Jean-Marie, defendia a redução dos impostos, a eliminação das 35 horas de trabalho semanais, recusava a reforma aos 60 anos de idade e queria uma França desregulamentada, desestatizada e sem muçulmanos. Esta Frente Nacional liderada por Marine Le Pen mudou não apenas porque Marine matou politicamente o pai, mas porque a essência do discurso deste partido extremista passou da direita para a esquerda. Enquanto Jean-Marie era essencialmente racista, Marine é anti-Europa. Uma mudança que está a dar excelentes resultados à senhora Le Pen e que se deve a um homem: Florian Philippot.

Vice-presidente do partido desde 2012, conselheiro próximo de Marine Le Pen, Philippot é o grande responsável pela estratégia da Frente Nacional e também pela sua comunicação. Com ele a FN foi bem sucedida nas municipais de 2014, venceu as europeias desse ano e prepara-se para a presidência que, não espera alcançar agora, mas em 2022. Aí, sim. Nessa altura é que, nas contas de Philippot, serão elas.

Este homem todo poderoso é profundamente contrário às privatizações e fez constar no programa eleitoral de Marine Le Pen propostas como o aumento do salário mínimo nacional, a redução das tarifas de gás e electricidade em 5%, o aumento dos salários da função pública, a reindustrialização da França (muito à semelhança do que o PCP pretende em Portugal), a associação da indústria e do Estado numa cooperação que privilegie a economia real (ou o que quer que isto signifique) e a fixação da idade legal da reforma nos 60 anos, com 40 anos de quotizações.

Há outro aspecto muito importante nesta viragem à esquerda e que a grande maioria não vê: esta FN considera como principal inimiga da França, a União Europeia (UE). É Bruxelas a culpada pelos inúmeros muçulmanos a viver em França, porque foi Bruxelas que abriu as fronteiras e impôs a livre circulação de pessoas dentro da UE. A protecção dos interesses da França, já não se faz apenas, como pretendia Jean-Marie Le Pen, ostracizando as minorias étnicas e religiosas. Para Marine, tal só é possível saindo da Europa. Da mesma forma, o programa económico mencionado em cima só é possível se a França sair do euro. Um discurso muito idêntico ao de Mélenchon, que entretanto ajustou ao tempo presente a posição que tinha em 2012 relativamente aos refugiados, e daí a similitude das propostas, a mesma identidade no caminho a seguir.

Vistas as coisas deste prisma não é difícil compreender por que motivo Jean-Luc Mélenchon não disse, na noite eleitoral, em quem vota na segunda volta. Mélenchon sabe que o seu eleitorado se revê no programa económico de Le Pen e não o quer trair. Mais: o líder da França Insubmissa, aliança política que une vários partidos de extrema-esquerda, entre os quais o partido comunista francês, sabe que uma vitória de Marine Le Pen ditará o fim do euro, do projecto europeu, ou seja, dos alicerces que sustentam o modo de vida do continente. Com Marine virá o caos e é no caos que vingam as ideologias como as que Mélenchon propugna. O melhor para a extrema-esquerda é a vitória de um extremismo disfarçado de direita.

Um último ponto a salientar é que esta mudança na Frente Nacional não é pacífica dentro do próprio movimento. Marion Maréchal-Le Pen, sobrinha de Marine, neta de Jean-Marie, tem a mesma perspectiva do avô. Não que seja europeísta, mas porque entende que a principal ameaça à França reside, não no modelo económico seguido até agora, mas no excesso de imigrantes que, não se integrando na cultura francesa, ferem de morte a identidade da França que é necessário proteger. Ou seja, uma derrota de Marine Le Pen a 7 de Maio será, à semelhança do que está a suceder no PS e entre os Republicanos, um motivo para um ajuste de contas, que aqui será não apenas partidário, mas também familiar. Se Florian Philippot resiste e convence a FN que o seu objectivo é para daqui a 5 anos, as próximas semanas o dirão.