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BandaLarga

as autoestradas da informação

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Os mitos que contribuíram para a nossa desgraça

Os mitos estão a ser desmontados. Não porque o crescimento dos últimos três trimestres tenha atingido níveis estratosféricos ou apenas invulgares. A média de 2,5% registada desde Outubro do ano passado é relativamente banal no plano europeu e medíocre para as nossas reais necessidades. Mas depois do prolongado jejum de quase duas décadas, com três recessões e um resgate pelo meio, já nos sentimos saciados com uma refeição mediana.

– Com esta política europeia não haverá crescimento económico

Quantas vezes não ouvimos esta frase, em diferentes versões mas sempre com o mesmo sentido? A culpa seria do Tratado Orçamental, dos “fanáticos da austeridade”, da “obsessão com o défice” ou da “penalização moral dos países do Sul”. Os tiranos tinham até rostos e nomes: Angela Merkel, Wolfgang Schauble e Jeroen Dijsselbloem. Ora, não só não se registaram mudanças nas políticas propostas por Bruxelas, como os tratados continuam em vigor e todos estes responsáveis se mantêm nas suas funções – ao que parece pelas sondagens, Merkel vai até renovar o seu mandato em Outubro

2 – A obsessão com o défice mata a economia

Depois do tratamento de choque que o limiar da bancarrota tornou inevitável, logo se começaram a ver “folgas” e se começou a pensar que o melhor era manter o défice orçamental ali pelos 3% sem esforços adicionais porque só assim se criaria espaço para dinamizar o crescimento económico. O “défice mais baixo da democracia” não é, afinal, um travão ao “crescimento mais alto da década”. A ideia de que a economia é comandada pelo Estado e por políticas económicas definidas por um punhado de economistas com uma folha de Excel já conheceu melhores dias. No fim do dia, a confiança que o equilíbrio orçamental transmite aos agentes económicos, aos nossos parceiros comerciais e aos nossos credores tem efeitos positivos mais prolongados do que os milhões que se atiram, tantas vezes sem critério, para a economia.

3 – O investimento público é fundamental

O investimento público é fundamental, de facto, para muitas coisas. Mas uma dessas funções cruciais não é, certamente, o efeito aritmético imediato que tem no cálculo do PIB. Porque, sabemos por experiência própria, as décimas a mais que conseguimos nas estatísticas do crescimento económico num ou noutro ano vamos pagá-las mais tarde com juros pesados se esses investimentos não forem racionais e necessários, com retorno económico e social comprovado.  Depois de uma série de anos de contenção no investimento público tivemos, em 2016, o valor mais baixo em muitos anos – porque o Governo, bem, optou por dar prioridade à redução do défice. E cá estamos com a economia a crescer sem precisar, para isso, do efeito provocado na actividade pela construção de mais uma auto-estrada, um estádio de futebol, um conjunto de barragens eléctricas ou outras coisas de mais do que duvidosa necessidade.

4 – Isto só lá vai com o estímulo do consumo

A destruição deste mito é, talvez, a mais importante de todas. Eu acredito que a economia portuguesa saiu estruturalmente mais forte da dieta forçada imposta pelo resgate e pela consequente recessão.

E o resultado está à vista. O primeiro motor deste ciclo de crescimento foram as exportações (que, estatisticamente, incluem o turismo) e o segundo está a ser o investimento. E isso é positivo, ainda que neste último caso possa haver algum efeito do eleitoralismo autárquico.
Seja como for, não são os estímulos dados aos cidadãos para que estes consumam que estão a fazer a diferença neste ciclo de crescimento económico. Até porque uma boa parte do que compramos é importado. Por outro lado, algum consumo é pago com o recurso ao crédito e uma das últimas coisas de que necessitamos é de desviar os recursos financeiros da banca para estas finalidades.

A Catarina Martins dizia que as exportações eram uma treta. É no que dá uma actriz ir além da chinela.

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