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BandaLarga

as autoestradas da informação

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AS MINHAS MEMÓRIAS - NETOS OU SERMOS AVÓS - Prof Raul Iturra

http://www.youtube.com/watch?v=7EdEvokTerE

Tchaikovsky Album for the young Cello Quartet

.... para a minha neta mais nova, May Malen, que, nestes minutos, voa de volta para sua casa… acompanho-a com a escrita do avô …

 

Tenho a sensação que nós, adultos maiores, desejamos uma descendência, como tenho escrito noutros ensaios do nosso blogue, divertida, carinhosa, sem temor, que saiba rir e nos traga felicidade.

Certo está quem escreve, existir uma geração nova, entre os netos e nós, os avós. Essa geração é a que sabe como tratar os seus pequenos, não grita, acompanha-os nas viagens por sítios perigosos, se não estivermos, as duas gerações, de forma silenciosa, a medir essas aventuras. De forma escondida, a observar, não por felonia ou protecção, mas para quem experimenta se se pode sentir seguro das suas aventuras. Aventuras que têm algum perigo para quem, ainda, nem tem uma racionalidade alternativa e não pode optar, perigo por ainda não ter aprendido como andar pelos terraços sem resguardo material ou emotivo das duas gerações, a do meio, os pais, e a mais velha, os pais dos pais, ou avós. Um pequeno desvario: em língua portuguesa, o plural de dois sexos diferentes, é masculino, donde devia ser avô, mas nesta relação a definição converte-se em feminina. Não como no plural de pai e mãe, sempre masculino, a isso não é certamente alheio o facto de, até há pouco tempo, quem trabalhava para o sustento ser o pai, enquanto a mãe criava. Factos que têm mudado e para os explicar, é preciso saber semiologia ou gramática, que é como quem diz, a história das palavras. Penso que a história é assim:

Se nos referirmos a um elemento do sexo masculino e a um do sexo feminino, o plural será avós, ou figura de retórica que consiste no emprego de uma palavra por outra com a qual se liga por uma relação lógica ou de proximidade. Os estudos metonímicos, dão uma grande volta para explicar a origem da forma feminina de um casal de pais: Quando se trata exclusivamente de pessoas do sexo masculino (o pai do pai ou o pai da mãe), o plural é avôs.

Assim, para designar o plural dos indivíduos de ambos os sexos, manteve-se a forma avós. Para o plural feminino, manteve-se, como seria lógico, a forma avós.

Houve, portanto, uma convergência do masculino e do feminino na palavra
avós.

Para que o plural constituído apenas por indivíduos do sexo masculino se distinguisse, foi criada a forma
avôs, que vai ajudando a reduzir a ambiguidade existente em avós.

Uma cumprida explicação racionalista ou cartesiana para explicar um sentimento.

Parece-me que emoções e sentimentos, têm formas de definição, mas após o estudo do consciente e o inconsciente da pessoa. Ou de entender que nas formas culturais e costumeiras os sentimentos têm apenas uma explicação por imitação, como diriam Freud, Klein e Miller.

O interessante é procurar uma grande volta para fugir da tristeza da neta que não está comigo. Qualquer forma de fugir da ausência de uma imagem sempre presente nos meus anseios de carinho, é uma sintaxe que permite desenhar essas formas adoradas, amadas, queridas, que tratamos com doçura, porque a doçura vem de volta na corrida aos braços do pai e da mãe, e essa domesticação da ferazinha domada, como aconteceu com May Malen e este Avô que é mesmo Avô e não Avó, por não existir uma mulher ao pé desse velho senhor.

May Malen corria, fugia de mim, até ao dia em que não olhei mais para ela, nem lhe falei nem ri. A sua curiosidade passou a ser uma intriga: se este senhor não me largava, porque é que agora nem fala comigo?

Foi a maneira de a seduzir e pô-la atrás de mim, à minha procura e a colaborar comigo nos meus trabalhos, a ser a menina do avô. Descobri a forma de me amar: nunca lhe tocar. É muito britânica para trocar carícias de corpo, excepto se for por brincadeira como os seus pais fazem.

Finalmente, aprendi a ter netos, netas e a ser avô. Carinho material e brincadeira.

A geração do medo sabe como se comportar. A geração mais velha, com a morte à porta, quer beijos e carinhos. Especialmente se é latina…

Ganhei uma neta!

Raúl Iturra

Parede, 26 de Abril de 2011, enquanto o avião aterra em Heatrhrow, Londres, no mesmo sítio e altura em que conheci a sua mãe, a minha adorada filha, nascida longe de mim, enquanto este Grandpa vagabundeava pelo mundo, como um pobre exilado….

May Malen, tu és, tu existes, lembraste de mim, excepto se faço carícias…

Isto é ser avô. As avós têm outras complicações. Mas é para elas as referir.

May Malen cresceu, fez cinco anos, começa a escola para ela, mas continua a fugir do avô.

A seguir a May Malen apareceu um mais novo que a dezoito de Agosto faz três anos. Doce e meigo como a mana, mas britânico: sempre a fugir das carícias. Entretêm-se com os seus primos neerlandeses ou holandeses, Tomas de 14 e Maira Rose, de onze. Com os avós, nem por isso. Para os britânicos sou Pío-Pío, para os neerlandeses, Opa Daddy. Para nenhum deles, Avô ou Abuelo.

Revisto e reescrito a 26 de Julho de 2014.

Dia Internacional dos Avós, criado pela UNESCO

26 De Julho de 2014.

lautaro@etcabo.pt

Revisto pela minha antiga estudante, hoje amiga especial, a arqueóloga do Seixal Maria da Graça Pimentel