A ESSÊNCIA E OS DETALHES
Uma deputada eleita pelo círculo eleitoral do Porto, desprezando os compromissos de campanha, vota no parlamento em prejuízo dos interesses da população que lhe incumbia defender, a troco de ser a escolhida pela direcção do partido como candidata a uma das mais importantes câmaras do país. O negócio espúrio fora tratado directamente com as cúpulas dirigentes, as quais colaboraram no expediente, com vista a assegurar o controlo central do pessoal político das autarquias, dele arredando as estruturas locais.
O trato abjecto foi bravamente denunciado por um outro deputado, este euro-deputado, do mesmo partido.
Seria de esperar que o autor da denúncia, pública, estivesse devidamente respaldado com sólidas provas de acto tão gravemente desonesto e tão profundamente infamante para os visados.
Seria de esperar, também, que estes reagissem, negando os factos tão intensamente censuráveis e reclamando procedimento do órgão disciplinar.
A tradição tabelar e de estilo imporia os protestos da incompatibilidade de tais comportamentos com os princípios republicanos e socialistas, de cujo estrito respeito, uma vez mais, se faria profissão de fé.
Quem extraia estas conclusões não viverá no Portugal do século XXI.
Habituemo-nos, se habituados não estamos ainda, a que tudo isto são rotineiras banalidades.
A deputada desrespeitadora dos seus eleitores prosseguirá a sua carreira política, que, porventura, se tornará fulgurante. Os dirigentes centralistas continuarão a manietar as estruturas inferiores. E o euro-deputado verá a sua carreira travada, mas não pela imputação de factos falsos, que, ao cabo e ao resto, porque indesmentidos, nem o deverão ser.
Grave é dizer que um cigano é cigano. Os jogos desonestos de controleiros do poder são a normalidade socialista.
Com tantos anos de actividade partidária, ainda não o tinha percebido?