Le tour de France
Acompanho o tour desde que sei ler. Com "a Bola" e o Carlos Miranda, excelente jornalista que escrevia mais sobre o país e o povo que sobre o tour propriamente dito. Para o Carlos Miranda, havia sempre uma pensão numa pequena aldeia onde ele pernoitava com um piano no fundo da sala. E a família portuguesa que fazia um piquenique no alto de uma montanha. E a história do chateau e da donzela presa nas catacumbas.
Quando o nosso Joaquim Agostinho começou a correr em França então, as histórias da sua relação com o corredor eram deliciosas. O Agostinho tinha mau feitio. O jornalista dizia-lhe que ele podia ter atacado, e o "jaquim" ficava pior que estragado . Que atacasse ele, falava porque ia com o "cú" tremido no carro de apoio.
Já naquela altura me admirava como era possível aqueles homens andarem em cima de uma bicicleta quatro e cinco horas, e a subir montanhas. E a desce-las o que ainda me impressionava mais. E o Carlos Miranda contava a história de um ciclista perdido no meio de uma montanha, a quem o treinador com um piscar de olho, dava um copo de água e uma aspirina e o ciclista ganhava asas.
O que eu sei, é que estive na tropa com um ciclista português. E vi-o sair do quartel para ir para a "volta a Portugal em bicicleta" e vi-o voltar. Era do meu pelotão. Poucas vezes fiquei tão admirado com a transformação de uma pessoa em tão pouco tempo. Tinha perdido muito peso, estava transparente. Disse-me que na etapa para Abrantes, quando levava vários minutos de avanço, teve que arranjar vários pretextos para não cortar a meta como vencedor.
Estava cheio de "doping" até ao pescoço.